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A história do café

Atualizado: 14 de abr. de 2022

O café é uma das plantas que mais impulsionou o crescimento econômico, a modernização, a pesquisa e o poder político no Brasil.


O cafeeiro é uma arvoreta (ou arbusto de grande porte) e de folhas perenes, pertencente à família Rubiaceae e gênero Coffea, que reúne mais de 100 espécies. Podendo atingir até 9 metros de altura, o cafeeiro apresenta folhas simples, opostas e de superfície brilhante, com 8 a 12 cm de comprimento. Suas flores brancas são levemente perfumadas e dão origem aos frutos do tipo baga, que amadurecem em tons de vermelho ou amarelo. As espécies Coffea arabica e Coffea canephora (robusta) são as de maior interesse econômico e respectivamente representam 70% e 30% da produção mundial.


Detalhe da floração do cafeeiro.

Originário de regiões altas da Etiópia (províncias de Kaffa e Enária), é amplamente cultivado em países tropicais e a partir de suas sementes torradas (os grãos) é preparada uma das bebidas mais apreciadas no mundo: o estimulante e saboroso café.


Uma lenda conta que a bebida foi inventada por monges da região: um pastor de cabras ao ver seu rebanho se alimentando ativamente dos frutos vermelhos de uma planta, resolveu experimentá-los. Revigorado com a dose de cafeína, levou os frutos aos monges, que a princípio consideraram obra do diabo e os grãos foram jogados no fogo. O forte aroma tomou conta do monastério e o exorcismo dos grãos foi interrompido com água. A bebida que surgiu era tão maravilhosa que passou a ser considerada divina, e ainda ajudava os monges a ficarem acordados durante suas orações. Registros relatam que o hábito dos etíopes envolvia o consumo da polpa dos frutos de café nas refeições e como um suco, que podia ser fermentado para se transformar em bebida alcoólica.


Com o passar do tempo, o café foi levado a outras regiões da África, como o Egito e teve seu cultivo foi iniciado no Iêmen. A partir da Península Arábica, chegou em Constantinopla, onde foi fundada a primeira cafeteria do mundo em 1475, chamada "Kiva Han" em Istanbul.


Frutificação do cafeeiro.

No século XIV, o consumo do café (que era chamado de vinho da Arábia) em cultos religiosos, deu origem a locais especializados em servir a bebida, atingindo escala comercial na região de Mokha (principal porto do Iêmen). O nome café é de origem árabe: a planta era chamada "Kaweh" e a bebida "Kahwah" ou "Cahue".


O botânico e médico veneziano Prospero Alpini (1553-1616) foi o primeiro a descrever o cafeeiro na Europa e publicar relatos científicos em sua obra De Medicina Egyptiorum (1591). Quanto mais a planta era propagada no mundo, maior o interesse gerado no meio científico, em função de suas propriedades.


Em 1615, a bebida chegou em Veneza, onde aconteceu a fundação do Botteghe del Caffè, um dos pontos responsáveis pelo hábito de torrar e moer o café na Europa. Porém, a bebida não agradava os religiosos que tentavam consolidar o cristianismo católico e por ser considerada maometana (relacionada à doutrina de Maomé), foi inicialmente proibida aos cristãos. A liberação aconteceu através do papa Clemente VIII, que experimentou o café e resolveu os impasses.


Os holandeses foram os primeiros a cultivar na Europa (no Jardim Botânico de Amsterdã) as mudas trazidas de Mokha, e também os primeiros a levar o café para a América do Norte. A revolução industrial e o uso de máquinas a vapor trouxe processos mais ágeis no preparo da bebida, com a invenção das máquinas de café.


No Brasil, a primeira muda de café chegou em 1727, através de Francisco de Melo Palhete, bandeirante designado para a missão de trazer a planta das Guianas Francesas.


O cultivo se iniciou em Belém, no Pará e posteriormente no Maranhão e Bahia. Após cinco anos de sua chegada, o café foi exportado pela primeira vez para Lisboa, em 1806. Entretanto, as condições climáticas da região fizeram com que o cultivo fosse transferido para a o Rio de Janeiro a partir de 1850, com grandes resultados conquistados em menos de uma década.


O esgotamento do solo no Vale do Paraíba fluminense, fez com que novamente a produção cafeeira fosse deslocada, desta vez principalmente para São Paulo e Zona da Mata mineira. Essas produções se tornaram a base da economia do país entre o fim do século XIX e primeiras décadas do XX.


Fazenda de Café do Vale do Paraíba - óleo sobre tela de Benedito Calixto. Acervo do Museu Paulista da USP.

O Estado de São Paulo passou por inúmeras transformações, ganhou ferrovias (principalmente a São Paulo Railway) e estações por onde era realizado o escoamento da produção para o Porto de Santos, de onde era embarcada para a Europa. A sociedade também foi beneficiada, pois as ferrovias além de permitir o fluxo entre cidades, agilizaram a chegada de notícias de outras localidades brasileiras e do mundo.


O Brasil passou a ser governado pela chamada "política café-com-leite", onde fazendeiros paulistas e mineiros se revezaram na presidência, até o enfraquecimento político que veio com a Revolução de 1930.


A expansão, o crescimento e a riqueza aos fazendeiros, proporcionadas pela lavoura cafeeira teve também impactos negativos, como a intensificação do trabalho escravo. A proibição do tráfico em terras brasileiras (Lei Eusébio de Queiroz, de 1850) proporcionou o início da modernização, onde os capitais que antes eram aplicados na compra de escravizados passaram a ser destinados para outras atividades: indústrias, ferrovias, telégrafos e navegação. Os cafeicultores passaram a desenvolver políticas para atrair imigrantes europeus para suas lavouras. Já a derrubada de matas para a construção de fazendas e terreiros para o beneficiamento do café contribuiu para a degradação da Mata Atlântica e mudança radical da paisagem.


Os grãos torrados do café


O café e a cidade de São Paulo


A cidade de São Paulo é marcada por diversos pontos históricos da era do café: mansões dos Barões do Café, praças, parques e prédios (principalmente no Largo do Café), cujas fachadas ou portões são adornados com ramos da planta, símbolo máximo do poder econômico no início do século XX.


A imponência do café e do capital gerado estão presentes no patrimônio histórico da cidade, como o Palácio da Justiça, Edifício Guinle, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Largo do Café, Edifício Martinelli, Estação da Luz, Painel Epopéia Paulista, Parque da Luz, Pinacoteca do Estado, Estação Pinacoteca, Estação Júlio Prestes e Vila dos Ingleses.


A prefeitura de São Paulo, através da empresa oficial de turismo e eventos da cidade (São Paulo Turismo), disponibiliza o guia O café e a história da cidade que permite compreender as transformações socioeconômicas e culturais que o café proporcionou, levando a capital paulista da nona cidade do Brasil em 1872, até a metrópole global da atualidade.


Os "Barões do Café" (como eram chamados os grandes produtores) exerciam uma enorme influência política no Estado de São Paulo, no início do século XIX. Suas solicitações de auxílios técnicos para o controle das pragas que ocorriam nos cafezais, proporcionou em 1927, a criação do Instituto Biológico (localizado no bairro da Vila Mariana, em São Paulo). Inicialmente chamado Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, sua construção se iniciou em 1928 e demorou 17 anos. Foi inaugurado em 25 de janeiro de 1945. Na década de de 1950, foram plantadas aproximadamente 2.500 mudas de café, destinadas à pesquisa científica.


Cafezal e o edifício sede do Instituto Biológico (à direita, ao fundo) - São Paulo (SP)

O cafezal existente hoje em dia possui cerca de 1.500 arbustos de café (estes plantados na década de 1980) e mesmo sendo menor que o original, é considerado o maior cafezal em área urbana do país e um dos maiores do mundo, mantido para finalidades didáticas, históricas e culturais. Toda a sua produção é doada ao Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo.


A história do cafezal do Instituto Biológico



O cafeeiro é uma das plantas que mais influenciou os rumos da humanidade e o próprio comportamento humano: proporcionou novas socializações, foi protagonista de impasses religiosos, deixou seu nome na política brasileira, trouxe um novo sabor às reuniões, mudou paisagens, transformou a economia, a vida no campo e a urbanização de grandes cidades. Em São Paulo, sua presença é tão marcante que não marcamos encontro, marcamos um café.


Autora: Patrícia Dijigow



Referências bibliográficas:


50 Plantas que Mudaram o Rumo da História

Bill Laws

Editora Sextante, 2013.


Álbum Histórico do Instituto Biológico - 86 Anos de Ciência em Sanidade Animal e Vegetal.

Disponível em:


O café e a história da cidade. São Paulo Turismo S/A.

Disponível em:




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