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Livro: Pequeno guia da Botânica Modernista

Atualizado: 6 de fev. de 2023


O livro Pequeno Guia da Botânica Modernista, de autoria da arquiteta e pesquisadora Ana Carolina Carmona Ribeiro, foi lançado em 2021 com o apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.


Unindo interpretações artísticas, paisagísticas e conhecimento botânico, o Pequeno Guia da Botânica Modernista traz uma abordagem multidisciplinar sobre espécies vegetais representadas pelo olhar dos artistas que há quase 100 anos (na Semana de Arte Moderna de 1922) inauguraram o movimento modernista no Brasil, como Lasar Segall, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e muitos outros.


As plantas abordadas neste guia são representadas tanto cientificamente, através da imagens de suas exsicatas (amostras de plantas secas provenientes de herbários do Brasil e do mundo), como através de diversas manifestações artísticas: poemas, desenhos, pinturas, depoimentos, cartas e fotografias dos modernistas, permitindo diversas possibilidades de interpretação e consulta deste extenso material.




A autora


A arquiteta e pesquisadora Ana Carolina Carmona Ribeiro é formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e mestre em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes na mesma universidade.


Atualmente, finaliza sua pesquisa de doutorado, “Botânica modernista e a natureza do Brasil redescoberto”, sob a orientação do paisagista Vladimir Bartalini. É também professora no curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal de São Paulo, pelo qual ministra disciplinas das áreas de paisagismo, desenho e comunicação visual.


Em sua investigação sobre o reino vegetal, Ana cursou atividades na Escola de Botânica, incluindo o curso Introdução à Botânica, cujo objetivo é despertar um novo olhar sobre a relação do ser humano com as plantas, chamando a atenção para a cegueira botânica (incapacidade de reconhecer as plantas e sua importância no ambiente que vivemos) e proporcionar mudanças na frequência e variedade das formas através das quais as plantas podem ser vistas e estudadas.


Ao pesquisar as representações da vegetação no modernismo paulista dos anos 1920 e 30, Ana percebeu que os primeiros modernistas se valeram enormemente das plantas em sua busca de uma identidade nacional e moderna para o Brasil.


O guia une diversas interpretações artísticas (poemas, desenhos, pinturas, depoimentos, cartas e fotografias), paisagísticas e conhecimento científico sobre várias espécies vegetais representadas pelo olhar dos artistas que inauguraram o movimento modernista no Brasil, há quase 100 anos.


Indo muito além, a publicação permite que essas plantas sejam vistas através de novos prismas que dialogam com a aplicação da Ciência Botânica em diversas áreas do conhecimento.


Detalhe da infrutescência do abacaxi e as cores que despertaram a atenção de Mário de Andrade.

O abacaxi (Ananas comosus) foi domesticado pelos indígenas muito antes das navegações espanholas e portuguesas que o disseminaram pela América Latina.


Mário de Andrade, escritor e poeta via nas cores vibrantes da natureza a relação entre frutas, pássaros e o povo. 


As artistas Anita Malfatti (1889 - 1964) e Tarsila do Amaral (1886 - 1973) associavam a natureza exuberante dos abacaxis aos povos negros e mestiços, representando-os em suas obras com balaios de frutas recém colhidas.


Lasar Segall reconhece em seu desenho, o aspecto de bromélia do abacaxi e retrata as folhas rígidas e espinescentes, que nascem em espiral, o pendão que o sustenta, a textura geométrica e a coroa espetada.


Observar o reino vegetal através das diversas manifestações artísticas é uma forma de criar um novo repertório de investigações e ampliar a visão sobre as plantas. 


Parte da população considera que as plantas sejam seres inanimados, e através da arte as plantas se tornam protagonistas de situações corriqueiras pelas quais não eram anteriormente notadas e passam a integrar novos cenários e representações que vão muito além do conhecimento exclusivamente científico.


A bananeira foi amplamente representada pelos artistas modernistas.

Originária do sudeste asiático, a bananeira (Musa paradisiaca) passou a ser cultivada nas regiões tropicais do planeta, tornando-se fonte essencial de alimento para uma grande quantidade de pessoas.


Culturalmente, a bananeira se transformou em um símbolo de exotismo e de conquista dos países imperialistas, cujas propagandas de exposição atraíam milhares de pessoas para conhecê-la, como em 1931 em Paris, onde a publicidade mostrava mulheres em vestimentas típicas junto a palmeiras, cactos e  bananeiras.


Para os artistas modernistas, bananeiras e bananas ganharam lugar de destaque como representações do embate entre os moldes de tradição europeia e o conteúdo local.


Anita Malfatti representou cachos e folhas em suas obras que retratam a figura feminina, como em "A negra" (1923), trazendo uma equivalência entre a natureza e a mulher.


O cartão postal com fotografia de bananal, enviado por Oswald de Andrade a Mário de Andrade traz ironias ao lugar então ocupado pelo Brasil no capitalismo mundial: exportando commodities e importando produtos industrializados e cultura europeia.


Lasar Segall também criticou o exotismo, mas explorando novas possibilidades para a bananeira, a transformou em vegetação luxuriante, explorando a planta em estudos e ilustrações detalhadas (folhas, cacho e coração) e inserindo-a em suas obras nos contextos espacial e social, assumindo um caráter humano, popular e solidário.


A mudança de cor das flores do manacá é de grande destaque na paisagem.

O manacá (Pleroma mutabile) é uma planta nativa da Mata Atlântica, da mesma família da quaresmeira e muito conhecida pelas flores brancas, rosas e arroxeadas que a destacam na paisagem da serra.


Em sua obra "Manacá", Tarsila do Amaral utiliza os elementos mais marcantes - as flores - em um buquê rosa e roxo sustentado por um eixo cilíndrico que se funde ao corpo de cactos.


Tarsila, aluna de mestres franceses cubistas, não teve a intenção de retratar a planta dentro dos critérios da ilustração botânica ou pintura naturalista, mas sim se posicionar no universo artístico com algo original através da síntese e da surpresa, criando seu próprio museu imaginário de espécies.


Ao reduzir a flora nacional a poucos elementos, a artista modernista cria uma nova realidade, colocando em xeque a ideia de uma natureza pura, que prescinde do homem e não é parte da cultura.


Em seu manifesto da flora futurista, escrito em 1924, o italiano Fedele Azari defende "a criação de uma flora plástica originalíssima / absolutamente inventada / coloridíssima / perfumadíssima / e sobretudo inesgotável, dada a infinita variedade dos exemplares".


O formato de candelabro da araucária também foi admirado e retratado pelos modernistas.

Há pouco mais de 100 anos, um grupo de araucárias (Araucaria angustifolia) foi registrado em fotografia de 1911 em plena Avenida Paulista, um dos cartões postais da cidade de São Paulo, que na ocasião permanecia uma zona quase rural.


Enquanto os vestígios da mata nativa eram destruídos entre os finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, os modernistas descobriam uma das poucas coníferas brasileiras, sobreviventes do período Jurássico e que habitavam grandes extensões do país.


O porte monumental e a estrutura inusitada despertaram a admiração do poeta Blaise Cendras e de Tarsila do Amaral. Retratada em versos por seus galhos que "se elevam como candelabros", a araucária em muitos locais desapareceu da paisagem, dando lugar a um sentimento de nostalgia e tristeza retratados por Lasar Segall.


Além das espécies abordadas neste artigo, o livro abrange agave, cactos, palmeiras, pau-brasil, vitória-régia e tantas outras plantas que, junto ao movimento modernista, proporcionaram um redescobrimento de valores naturais e culturais, mudaram a forma como muitos enxergavam o Brasil e permitiram que novas histórias fossem contadas sobre a relação do povo com a natureza.



Apesar de conter uma lista de espécies, nomes científicos em latim e descrições morfológicas, esta publicação tem por objetivo trazer, através da arte e suas múltiplas manifestações, novas formas para acessar, conhecer e explorar a flora, proporcionando ao público essa aproximação das plantas a partir do campo da linguagem.


O Pequeno guia da botânica modernista permite que cada planta seja lida, entendida, sentida em toda a sua complexidade - e que possa ser reinventada por cada um dentro das infinitas possibilidades que unem natureza e arte.


Para saber mais informações sobre esta publicação, siga o perfil @botanicamodernista.



Por: Patrícia Dijigow

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